domingo, 29 de maio de 2011

Anticorpo feito em laboratório defende pulmões de bebês

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR


Uma revisão recente na literatura médica, feita por um grupo de especialistas reunidos na Associação Americana de Pediatria (AAP), reafirma a eficácia de uma droga clonada em laboratório que pode salvar vidas de bebês prematuros e de crianças consideradas de alto risco nascidas de partos normais, com até 2 anos. O primeiro grande estudo com o palivizumabe — um anticorpo monoclonal humanizado, obtido em laboratório com uma técnica de rearranjo do DNA — tem mais de uma década e foi produzido por cientistas do Reino Unido, do Canadá e dos Estados Unidos. Referendadas por vários países, inclusive o Brasil, por meio da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), as análises mostram que o medicamento reduz o índice de internação de lactentes de gestação normal e prematura afetados por doenças respiratórias numa faixa de 55% a 70%.

A releitura dos dados sobre a droga pela AAP coincide com o período de maior risco de contaminação de bebês pelo vírus sincicial respiratório (VSR) no Brasil, que envolve o período de abril a agosto ou de maio a setembro. “O vírus afeta crianças prematuras, principalmente aquelas com fibrose cística. Não existe tratamento específico para o vírus, então a solução foi fornecer ao organismo, como profilaxia, um anticorpo produzido em laboratório, que é específico para o VSR”, explica o imunologista Roque Almeida, da Sociedade Brasileira de Imunologia. Quando fala em cuidados profiláticos, no sentido de proteger os pulmões dos prematuros e de crianças com até 2 anos, Almeida se refere ao poder do palivizumabe de prevenir o ataque do VSR aos brônquios e pulmões.

O uso do medicamento, no entanto, pelo menos no Brasil, depende da iniciativa de algumas secretarias estaduais de saúde, como as de Minas Gerais, São Paulo e do Rio de Janeiro, entre outras, que baixaram normas técnicas e resoluções abrindo o acesso aos pais que apresentem pedidos bem fundamentados por médicos. Cada caso, porém, é rigidamente acompanhado. Isso explica, em parte, a dificuldade de localizar o anticorpo, sobretudo por ser essa uma droga cara (custa cerca de R$ 5 mil cada unidade) e muito pouco conhecida, mesmo entre os médicos.

A pediatra Miza Vidigal, que trabalha em unidades de terapia intensiva neonatal de hospitais públicos e privados de Brasília (DF), explica que o bebê deve receber cinco doses de abril a agosto para assegurar a imunização. “Como não se trata de uma vacina, mas de um anticorpo monoclonal, é preciso repetir a dose por cinco meses e os custos são muito altos”, diz. Nesse caso, a substância age como uma espécie de soro. “Uma só etapa do tratamento não sai por menos de R$ 30 mil, porque, no próximo ciclo do VSR, as doses devem ser ministradas outra vez.”

Raro e poderoso

Miza Vidigal é uma das poucas especialistas na capital federal a prescrever o uso do palivizumabe. A pediatra lamenta que, apesar da recomendação da SBP de se criar um programa – em nível nacional – para assegurar a administração de todas as doses necessárias durante o período de sazonalidade do VSR, poucas unidades da federação sigam a orientação. “O ideal era que os bebês atendidos fossem acompanhados por meio de um protocolo específico”, observa. “Distribuir o medicamento sai muito mais barato para o estado do que manter a criança numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI)”, acrescenta.

Foi graças ao medicamento que a pequena Lara Barros Barbosa, de 6 meses, está viva, apesar de a Secretaria de Saúde de Brasília não fornecer a droga a hospitais da rede pública. Embora hoje esteja "muito bem", nas palavras de Miza Vidigal, que a acompanha desde a UTI, a menina nasceu com 26 semanas, pesando 1,125kg; e seu irmão gêmeo, Davi, com 1,135kg. “Eles foram direto para a incubadora. Davi não resistiu, mas Lara, sim, depois de ficar 76 dias na UTI”, lembra Michelle Simonela Barros Barbosa, mãe da pequena.

“Bebês prematuros não produzem anticorpos e não podem se defender do vírus sincicial respiratório (VSR). Além do mais, eles não têm os pulmões completamente formados e por isso evitamos sobrecarregá-los”, explica a médica. Pensando em assegurar ainda mais a proteção de Lara contra o VSR, Miza prescreveu o palivizumabe em março, mas até agora a família aguarda aprovação de um processo na Justiça para obter gratuitamente o medicamento.

“Lara passou por mais de 30 transfusões, teve duas hemorragias e precisa de todos os cuidados possíveis", justifica a pediatra. Pelas contas dos pais da garota, Michelle e Frederico Barbosa, a filha passou 76 dias na UTI e 26 no quarto. Ela está em casa há três meses, mas o susto, em parte, já passou. A mãe lembra que, do casal de gêmeos, a menina era a mais frágil, enquanto o menino, Davi, prometia resistir. “Uma semana depois de nascerem, em 2 de novembro, recebemos uma ligação do hospital, pensamos que a notícia fosse sobre a Lara, mas os médicos disseram que havia acontecido com Davi”, conta Michelle.

Durante todo o tempo, a partir do nascimento, a preocupação era maior com Lara. "Ela teve de receber 100% de oxigênio, enquanto Davi ficou com 25%. Tudo nela era difícil, era pior. E, no entanto, está cada dia mais forte e mais saudável”, comemora a mãe. A reação da família, no entanto, não evita a preocupação maior: quando terão acesso ao medicamento?

Os estudos de revisão do palivizumabe tomaram como base recomendações da AAP, publicadas originalmente em 1999 e atualizadas em 2003 e em 2007. Outras investigações sobre o uso do anticorpo em lactentes prematuros de risco mostram que a droga reduziu a incidência de hospitalização relacionada ao VSR em 55% na Espanha e no Reino Unido. No Brasil, essa taxa chega a 70%.

Distribuição segue critérios rígidos

As secretarias estaduais de Saúde de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás foram as primeiras, a partir de 2006, a baixar resoluções para acesso ao palivizumabe. Todas seguem recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Associação Americana de Pediatria para disciplinar o uso da droga na prevenção da infecção pelo VSR. As normas técnicas definem o período de aplicação do palivizumabe e como será feito o cadastramento dos pacientes que receberão o medicamento sob os critérios estabelecidos.

Nos estados que usam o anticorpo e onde a prescrição do médico é autorizada, a secretaria envia à família correspondência comunicando local e datas referentes à aplicação do medicamento. As secretarias de Saúde recomendam ainda que a amamentação de recém-nascidos enquadrados no grupo de risco seja encorajada e evitada a exposição do bebê ao tabaco, bem como o contato com familiares com infecção respiratória.

Podem receber o medicamento crianças menores de 1 ano que nasceram prematuras (idade gestacional menor ou igual a 28 semanas), após alta hospitalar, e menores de 2 anos portadores de patologia cardíaca congênita com repercussão hemodinâmica importante ou com doença pulmonar crônica da prematuridade, que necessitaram tratamento nos seis meses anteriores ao período de sazonalidade do VSR.

Do Estado de Minas

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